30/01/2010

A influência do interesse

“A maior parte das coisas pode ser considerada sob pontos de vista muito diferentes: interesse geral ou interesse particular, principalmente. A nossa atenção, naturalmente concentrada sob o aspecto que nos é proveitoso, impede que vejamos os outros. O interesse possui, como a paixão, o poder de transformar em verdade aquilo em que lhe é útil acreditar. Ele é, pois, frequentemente, mais útil do que a razão, mesmo em questões em que esta deveria ser, aparentemente, o guia único. [...]
As variações de opinião obedecem, naturalmente, às variações do interesse. Em matéria política, o interesse pessoal constitui o principal factor. Um indivíduo que, em certo momento, energicamente combateu o imposto sobre a renda, com a mesma energia o defenderá mais, se conta ser ministro. Os socialistas enriquecidos acabam, em geral, conservadores, e os descontentes de um partido qualquer transformam-se facilmente em socialistas.
O interesse, sob todas as suas formas, não é somente gerador de opiniões. Aguçado por necessidades muito intensas, ele enfraquece logo a moralidade. O magistrado ávido de promoção, (o estudante guiado pelo interesse sem perceber o verdadeiro sentido do estudo), o cirurgião em presença de uma operação inútil porém frutuosa, o advogado que enriquecerá com complicações de processo que ele poderia evitar, terão rapidamente a moral muito abalada se imperiosas necessidades de luxo lhes estimularem o interesse. Essas necessidades podem constituir, nas naturezas superiores, um elemento de actividade e de progresso, mas nas naturezas medíocres determinam, pelo contrário, uma acentuada degenerescência moral.”
Gustave Le Bon, in «As Opiniões e as Crenças»

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